Genshin Impact é realmente uma cópia de Zelda?

Recentemente eu fiz um vídeo no qual eu dizia que Genshin Impact copiou Zelda: Bafo do Louco e esse termo “copiar” gerou muita intriga principalmente lá no meu TikTok, que é o @tiolou.

Depois disso eu fiquei pensando se era um termo adequado. Afinal, Genshin copiou Zelda? Se inspirou em Zelda? Ou nem um e nem outro? Qual a diferença entre os termos e por que eles importam tanto? Hoje a gente vai conversar um pouco sobre isso!

Segundo o dicionário Michaellis de língua portuguesa, copiar e inspirar-se em são sinônimos. Ou seja, o ato de se inspirar numa determinada obra a fim de criar a sua própria é, por si só, o ato de copiar algo antes visto e modificar para que se obtenha um novo resultado.

Já segundo o dicionário Priberam de língua portuguesa, copiar significa imitar ou plagiar e inspirar-se ou inspiração são termos com definições mais esotéricas, mais voltadas para a religiosidade ou para algum tipo de sugestão feita direta ou indiretamente por alguém ou por alguma obra.

Segundo o nosso idioma, portanto, não há uma diferença clara entre copiar, inspirar-se ou plagiar. Esses termos começam a se diferenciar quando envolvemos política e finanças no assunto. Politicamente, copiar e plagiar são sinônimos e são ambos termos pejorativos para a maior parte das pessoas. Já inspiração tende a ser entendido como algo bom, quase divino, um ato de iluminação em que a pessoa passa a ter uma ideia brilhante e que beira o revolucionário.

Já financeiramente, cópia e plágio são termos utilizados para defender propriedades intelectuais e para fazer com que uma pessoa possa lucrar com algo que foi feito uma única vez por alguém que já não gera mais qualquer tipo de riqueza para a sociedade por meio dessa obra. Afinal, ela já foi criada e não tem mais nenhuma função senão ser observada ou copiada.

Agora, pensemos: Genshin é ou não é uma cópia de Zelda? Eu digo que sim, é. Tanto quanto WoLong, Nioh, Lords of the Fallen e até mesmo Elden Ring e Dark Souls são todos cópias de Demon’s Souls, mesmo Elden Ring e Dark Souls sendo criações da mesma empresa que criou Demon’s Souls. Afinal, são jogos absolutamente idênticos – o que você identifica logo de cara facilmente pelo clima tenebroso e dificuldade desumana, além de monstros com aparência geralmente repugnante e assustadora. Mesmo tendo sido criados pela mesma empresa, são claramente identificados como integrantes de um mesmo grupo, de um mesmo gênero.

Comparativo entre os games WoLong Lords of the Fallen Nioh e Elden Ring

Genshin é tão cópia de Zelda: Breath of the Wild quanto WoLong é uma cópia de Demon’s Souls. Tanto quanto Call of Duty é uma cópia de Battlefield, que, por sua vez, é uma cópia de Counter Strike, que, por sua vez, se inspirou completamente em Doom e por aí vai.  E eu não vejo ninguém reclamando disso. De nenhum desses, na verdade. O que eu vejo é gente chata resmungando por conta de termos que, gramaticalmente, têm o mesmo significado.



    A máxima “nada se cria, tudo se copia” foi dita por Chacrinha e segue até hoje sendo utilizada para justificar plágios. Mas não é esse o caso aqui. Essa frase foi inspirada – ou, se você preferir, copiada – na frase original “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” que foi dita por ninguém menos que Antoine-Laurent de Lavoisier, um famosíssimo químico do século 18 que era obviamente francês com um nome difícil desses.

    O que Lavoisier quis dizer é que não há desperdício. A matéria nunca deixa de existir. Ela se transforma sempre em algo novo, algo diferente.

    E é justamente isso o que acontece com as obras artísticas. Raríssimos os casos em que elas são inéditas. Músicas, filmes, séries, animes, desenhos, jogos, novels, tudo tem algum ponto de partida. Os autores mais icônicos que nós conhecemos criaram coisas incríveis, dignas de nota, mas quando estudamos mais a fundo percebemos que antes de se tornarem essas lendas criativas, eles começaram de algum lugar, se inspirando em outros autores anteriores ou contemporâneos, copiando obras até desenvolverem um estilo próprio, cuja base é algo pré-existente.

    Por isso, quando eu digo que Genshin copiou Zelda: Bafo do Louco, eu não estou falando mal de Genshin. Muito pelo contrário! Eu estou dizendo que pessoas estavam bem-preparadas o suficiente para perceberem o nascimento de algo incrível, se pautaram nessa ideia que alguém já tinha desenvolvido e a expandiram para novos horizontes, dando vida a uma obra completamente nova – apesar de seu início ter sido obviamente a obra anterior.

    Zelda e Genshin Impact lado a lado com claras semelhanças inclusive com relação às texturas utilizadas

    Especialmente considerando o nível criativo e a quantidade de lucro visado pelas desenvolvedoras, é dificílimo esperar uma obra completamente inventiva, criadora e revolucionária nos dias de hoje. As pessoas não compram invenções. Muito pelo contrário, o ser humano tende a odiar tudo que é novo ou diferente. E as empresas querem lucrar, logo elas tendem a se manter naquilo que já deu certo e traz lucros. Por que mexer em time que está ganhando?

    Na minha visão, o problema real não é se o jogo é uma cópia ou não, mas sim o quanto de novidades ele trouxe, ainda que seja uma cópia ou inspiração.

    Zelda tem inúmeras mecânicas que não existem em nenhum outro jogo. Genshin tem um sistema de elementos que nenhum outro jogo tem igual. Tower of Fantasy tem um sistema de armas diferente dos outros dois jogos que acabei de citar. Blue Protocol, quando for lançado, terá sistemas completamente diferentes de todos esses jogos. E todos são frutas da mesma árvore.

    É exatamente por isso que existem os gêneros. Gêneros são grupos de coisas que nasceram da mesma fonte, mas ainda assim produzem resultados diferentes. Por exemplo, eu gosto muito de rock, mas não preciso ouvir só Led Zeppelin se eu tenho Ac-Dc, Metallica, Epica e Pitty à minha disposição também. Eu amo Rammstein, mas também gosto demais de Oomph! E de várias outras bandas de metal industrial.

    Eu posso perder meu tempo discutindo se uma banda copiou a outra e criar uma rixa inútil entre elas ou eu posso investir esse mesmo tempo ouvindo todas elas e me divertindo horrores. Cabe a você escolher o que prefere. Eu prefiro jogar Zelda, Genshin, Tower of Fantasy, Blue Protocol, Dark Souls, Elden Ring e o que mais de divertido estiver disponível. E se bobear eu ainda jogos os clones desses jogos! Porque, pensa comigo: se eu gosto tanto de um jogo, ter outro igual ou extremamente parecido não deveria ser algo bom? Ou eu deveria querer que o jogo que eu tanto gosto acabe logo pra eu ficar sem?